sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

8o ano 2010

Demos início também ao projeto "Contos Horríveis" no 8o ano.
Assim como no 7o, iniciei pela discussão da funcionalidade das suas redações escolares, mas ao contrário da outra sala, aqui logo percebi que os alunos têm muito clara a ideia do porquê da redação escolar:

"Pro, o que a gente escreve aqui é pra treinar, né, já que só você lê"...

Bakhtin deu pulos de alegria com a consciência de gêneros escolares dos alunos, não?...

Mas enfim, logo conversamos sobre textos literários artísticos, e comparando-os com outras manifestações artísticas, pudemos conversar um pouco sobre Arte e suas funções...

Compartilhei com eles as próximas etapas do projeto e entramos, então, no terror propriamente dito. Sabendo que há alunos cuja religião não permite contato com contextos de terror, propus que estes alunos trabalhassem o mistério de outra maneira, com contos de investigação policial, sem entrar com elementos do sobrenatural. Neste ponto desenvolvemos a ideia de um termômetro de mistério, que faz com que diferentes histórias apresentem níveis diferentes de horror, sendo que as mais próximas da realidade entrem no rol de narrativas policiais.

Ao comentar sobre uma das etapas, na qual assistiremos um filmede terror, a discussão acalorou, pois todos queriam contar sobre filmes que haviam visto e propôr títulos. Gostei, sinal de que a sala engajou na proposta... Vamos esperar para ver a escrita!

Primeira proposta, para meu diagnóstico inicial do projeto, foi criar uma história que partisse de um espaço típico de contos de terror.

Na escrita diagnóstica pude notar que a dificuldade em criar algo absurdo é bastante grande. Alguns ficaram no campo da investigação, fizeram praticamente episódios do CSI, outros extrapolaram nas idéias e criaram textos confusos e corridos. Temos um longo caminho... Para os que não conseguiram sair da primeira linha propus uma introdução minha, para eles terminarem como quisessem. Pedi também para a próxima semana a leitura de 3 contos do livro bimestral.


Por conta da escrita diagnóstica, fiz com eles uma atividade de conto coletivo. Em pé e em círculo, com uma bola de isopor nas mãos, comecei um conto.

Em seguida, joguei a bola para um aluno, em sinal que ele deveria continuar de onde parei. Eles só não sabiam que eu combinei antes com um deles que eu lhe passaria a bola no desfecho, e ele deveria dizer “então ele acordou e foi tudo um sonho”. Seguimos criando uma história maluca sobre um homem sem orelha que vê o caixão da avó ser profanado. Um bicho peludo e voador se juntou ao enredo e de repente.... o protagonista acordou, e fora tudo um sonho. Em coro o grupo fez um sonoro “aaahhh!!”. Gostei da conclusão, pois era exatamente essa reação que queria deles. “Vocês fecham seus textos tantas vezes assim, e é essa a sensação que eu, como leitora tenho!” Espero que o tal desfecho do pesadelo suma da escrita deles, especialmente nos nossos contos de terror.

Nesta aula também pudemos falar da feira, e as ideias surgem como zumbis na noite... “Vamos deixar um deitado no caixão e no meio da leitura, bem no ponto mais misterioso, ele levanta!” -“Mas e se algum cardíaco entrar?” Pronto, já montamos ao invés de uma sala de contos de terror, uma noite do terror do Hopi Hari... Profissas, esses meus alunos...

Lemos o conto “Olhos Verdes”, do livro bimestral. Os alunos perceberam que nele há mais mistério que medo, e pudemos compará-lo a histórias já conhecidas, como a lenda indígena da Iara e à história da sereia.


Assistimos ao filme A Colheita do Mal, para que os alunos pudessem perceber quais elementos comuns às histórias de terror lhes conferem mistério. Após alguns sustos e muita pipoca, conversamos sobre o filme. Felipe levantou bem a questão de como a música é fundamental, e nos perguntamos, então, como criar o tal clima sem esse recurso. Aqui pude trazer o conceito de universo semântico, e falamos de como o uso de palavras ligadas ao mundo do medo podem contribuir, desde verbos de elocução adequados (sussurrou, gemeu, gritou, esbravejou, grunhiu, murmurou...) até os substantivos e adjetivos mais comuns aos espaços e personagens de terror: escuro, chuvoso, tenebroso, nuvens, preto, cinza, trêmulo, etc.
Algumas fotinhos da sessão cinema...


Em fins de março tivemos a avaliação de redação. Para compartilharmos os textos criei um espaço único, que você pode acessar aqui.
Minha avaliação geral das produções foi bastante positiva, pois todos, de uma maneira ou outra foram capazes de criar mistério, o que era o objetivo inicial.
Nosso constante foco, ainda, é a coesão e estruturação, especialmente de desfecho, mas o suspense anda a passos largos... e tenebrosos...

Seguem abaixo as propostas de redação:

Escolha um dos temas abaixo para ser base de seu texto.
Tema 1- Use a imagem como elemento de sua narração.

"Imagem de uma moça no caixão" (Não consegui postá-la aqui)
Tema 2- Siga seu texto a partir desta introdução.
“Chamo-Me José Torcato e sou proprietário de uma casa funerária, numa pequena povoação no Norte do nosso país. Sempre me dei bem com este meu ofício, que muitos consideram assombrado – “lidar” com mortos, percebem??...
Mas eu tenho o hábito de que “tenho mais medo dos vivos, do que dos mortos!”.
A verdade é que o meu “negócio” tem estado à beira do malogro. Sim, já há dois anos que não falecia ninguém aqui na aldeia, nem nas povoações limítrofes, e eu já havia vários credores atrás de mim. Um certo dia, o meu espírito foi assombrado por uma ideia macabra - A de matar alguém!”
(retirado do site "Contos de Terror")
Tema 3- O título de seu texto deve ser “Beijos Gelados”

Abril

Começamos o 2 bimestre de olho na produção dos contos para a Feira. Para tanto, trabalhamos mais alguns contos do Livro do Medo em sala. Lemos e procuramos marcas textuais importantes para o gênero, como adjuntos adverbiais, adjetivos e verbos que criem um clima de suspense.
Discutimos também a estrutura das intriduções, mostrando que eles podem partir de algo novo, fugindo do costumeiro "Um belo dia". Até por que de belo, o dia dos seus contos não vai ter nada....
Os desfechos também foram objeto de observação. Conversamos sobre como esperamos em contos de fadas o final feliz, e por que nos contos de terror isso não funciona.

Em seguida eles leram mais alguns contos e foram para casa com a tarefa de elaborar um texto para sexta que vem, usando um dos 4 temas apresentados pelo livro como base.

23/ abril
A devolutiva dos contos foi bastante tortuosa. Eles sentiram muita dificuldade em ter ideias.
Para sanar este problema, apresentei a eles duas técnicas que os podem ajudar. Propus algo parecido com brainstorm: escolher um tema elencar palavras deste campo semântico. Fizemos isso com "loucura" juntos. Isso foi o que saiu:
hospício, cela, escuro, prisão, solitária, baba, visões, correntes, vozes, escuro, úmido, angústia, morte.
Oralmente criamos uma história a partir destas palavras.

Depois, propus um esquema prévio, em que o escritor já estabelece personagens, conflito e desfecho, mesmo que possa mudar em algum ponto do caminho.
Conversamos também sobre outras dificuldades:
Introdução: Alguns alunos não sabem como começar. Demos então exemplos, de introduções alongadas demais e de outras sem nenhuma informação. Falamos sobre a função da introdução, de climatizar o leitor, especialmente em um conto de terror.
Desfecho: Acostumados ao final feliz, é difícil mudar o paradigma. Falamos então das possibilidades de se resolver através da tristeza mesmo, com finais nem tão felizes. O que eles mais gostaram foi de deixar um mistério em continuação, para que o leitor ache que na verdade, o conto não acabou.

Outra atividade interessante que fizemos, ligada à matéria gramatical paralela, foi elaborar um parágrafo de introdução apenas com adjuntos adverbiais. Que difícil....... Quebrar paradigmas do costumeiro...
Fiz um na lousa de contos de fadas, e logo eles superaram a dificuldade e fizeram coisas bem interessantes.
Este é um exemplo. Outros estarão disponíveis no blog a sala: contos8ano.blogspot.com.

"Atentamente, solitariamente no quarto. Aterrorisadamente com a faca na mão, o cachorro no colo, amedrontadamente na madrugada."

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